
No coração da Zona da Mata alagoana, uma história de luta e resistência se destaca, personificada pela ialorixá Mãe Neide Oxum, um ícone do afroempreendedorismo e patrimônio vivo de Alagoas.
Há 14 anos, Mãe Neide encontrou no restaurante Baobá, localizado na subida da Serra da Barriga em União dos Palmares, um meio de unir sua fé de origem africana com o mundo promissor do empreendedorismo.
Mãe Neide explica que, apesar das dificuldades, os afroempreendedores não desistem. “Trabalhar hoje com alimento sagrado, trabalhar hoje com alimento preto do índio é contar a história de um povo que resistiu e que resiste ainda hoje”, diz.
No restaurante Baobá, Mãe Neide traz referências culturais e históricas em cada detalhe, especialmente na cozinha, onde demonstra respeito ao alimento sagrado. “A fé é o alimento de resistência. O acarajé, que nasceu nos terreiros de candomblé da Bahia, hoje está na mesa de quase todo brasileiro. É fé e resistência, vencendo conceitos e intolerância.”
Mãe Neide é um exemplo vivo de como a ancestralidade pode transformar dificuldade em oportunidade. “O Quilombo dos Palmares me fez acordar para que eu sentisse que poderia usar a sabedoria que aprendi dentro do terreiro para gerar renda para minha família e para quem estivesse precisando”, conta.
A trajetória do afroempreendedorismo no Brasil ainda está se desenhando e tem muito potencial para crescer. No Brasil, 52% dos empreendedores são pretos, e o afroempreendedorismo é predominantemente feminino, com 61,5% das mulheres liderando esses negócios. No entanto, a falta de qualificação e de acesso a crédito são barreiras que impedem o crescimento.
Em Alagoas, a maior concentração de afroempreendedores está no setor de beleza, seguido por moda e cultura.
Os desafios diários refletem uma vida inteira de luta por igualdade e oportunidades. “Se nós resistimos a tanta coisa, por que desistir? Não existe essa palavra ‘desistir’ no meu vocabulário”, conclui Mãe Neide.
A história de Mãe Neide é um poderoso testemunho de como o empreendedorismo afro não só promove a economia, mas também celebra a cultura e a história do povo preto, transformando tradição e ancestralidade em um bom negócio que alimenta o corpo, a alma e o bolso.
Assista a reportagem da TV Pajuçara: