
Passados 17 meses desde que a mina 18, da petroquímica Braskem, em Maceió (AL), foi declarada sob risco iminente de colapso, o desastre anunciado ainda não aconteceu. O que se previa como um dos maiores desabamentos urbanos da história brasileira acabou se tornando um episódio de desgaste institucional e descrédito popular. O solo segue instável, monitorado — mas não cedeu.
O alerta, feito em novembro de 2023 pela Defesa Civil de Maceió, paralisou parte da capital alagoana. Moradores foram evacuados às pressas. Escolas, comércios, igrejas e casas foram abandonadas. A imagem de uma cidade em colapso tomou conta da imprensa nacional. O prefeito JHC decretou estado de emergência por 180 dias, e a palavra de ordem era: “o afundamento é inevitável”.
Hoje, em abril de 2025, o cenário é outro — mas sem explicações à altura do medo que foi imposto. A mina não colapsou. O deslocamento vertical diminuiu drasticamente. Não houve crateras, tampouco tremores. A cidade não afundou. Mas a confiança na palavra das autoridades, sim.
Quem ganhou com o medo?
A pergunta que ecoa em Maceió é simples e incômoda: quem se beneficiou com todo aquele pânico?
Durante o auge do medo, contratos emergenciais foram firmados. Famílias foram relocadas. Empresas ligadas à construção civil, transportes e segurança foram mobilizadas. Áreas antes desvalorizadas passaram a concentrar nova especulação imobiliária. Recursos federais e estaduais circularam com menos resistência.
Setores do poder público e privado — que não necessariamente provocaram o alarme — certamente lucraram com ele.
A população cobra explicações
Moradores agora vivem em suspenso: sem as casas que perderam, sem indenizações completas, e sem respostas. Muitos relatam que foram retirados à força de imóveis estáveis, em nome de uma tragédia que até hoje não veio.
“Disseram que a gente ia morrer soterrado. Fizemos as malas chorando. E agora estamos há mais de um ano esperando a terra abrir. Nada aconteceu”, diz seu Antônio, ex-morador do Mutange.
O prestígio da Defesa Civil, da prefeitura saiu fragilizado. O mesmo vale para a própria Braskem, que apesar de alegar atuação preventiva e transparente, perdeu boa parte da confiança da população.
Indiciamentos e silêncio
A Polícia Federal, em novembro de 2024, indiciou 20 pessoas por crimes ambientais e danos ao patrimônio público. A Braskem afirma que colabora com as investigações. Mas até agora, ninguém foi responsabilizado pela histeria coletiva que tomou conta da capital alagoana.